sábado, 21 de maio de 2011

SITE CORREIO DO POVO - Bufão fala de preconceito em "Isaías em Tese"

Francisco de los Santos encarna mendigo que recolhe elementos da rua para incorporar ao seu figurino mutante

Isaias in Tese - Foto: Federico Kiran

Brincar com a migração em geral e falar do preconceito sofrido por quem sai de sua terra natal e encontra dificuldades de adaptação foi o objetivo de Francisco de los Santos ao criar Isaías, personagem que o ator acredita que vá interpretar a vida inteira. Na figura de um bufão, ele encarna um mendigo que conta vários exemplos, como a história do nordestino Francisco José da Silva, que vem para o Sul do país escapar da sina de aridez, em busca de uma vida melhor. Isto num ambiente repleto de objetos como brinquedos, uma rede e fitas do Nosso Senhor do Bom Fim, que remete à reciclagem, baseado na questão dos migrantes que vem pra cá com suas redes, espelhos e cabides.

O texto está sempre em construção e foi extraído de entrevistas com nordestinos que residem em Porto Alegre e Cachoeirinha e o personagem se alimenta de tudo que está à volta de seu intérperte, sempre aberto a improvisações. Em 2009 ele esteve em Salvador e no ano passado, em São Paulo e Rio de Janeiro. "No centro do país, quando fiz as esquetes, no final explicava que aquele era o incídio de uma tese sobre migração nordestina no Rio Grande do Sul, e então senti um certo preconceito. Daí perguntei se estas pessoas nunca tinham sentido o preconceito quando saíram para o exterior", declara Chico, que cada vez que sai para a rua procura algo novo para ser incorporado ao seu figurino e cenário. Filho de um médico e uma advogada, ele diz ter sentido na pele o preconceito quando aos 20 anos resolveu vender artesanato na rua, antes de ingressar na vida artística, atuando numa escola de samba como decorador e aderecista de carro alegórico e depois em moda, como figurinista.

Quando o artista participava das festas temáticas promovidas pelo Depósito de Teatro, as memoráveis Bagasextas, muitas pessoas lhe sugeriram que fizesse a oficina de bufão com a atriz Daniela Carmona, no Tepa. Depois veio a oficina "Ópera dos Mendigos", tendo como ponto de partida "Ópera dos Três Vinténs" de Brecht, onde surgiu o Isaías pela primeira vez. Fez alguns esquetes numa casa noturna e começou a dar corpo ao texto sobre migração nordestina que tinha em mente, levando sua performance ao Festival de Esquetes de São Leopoldo e à Feira do Livro de Porto Alegre, há dois anos. A seguir transformou a performance de 25min em espetáculo e em 2010 foi para o Ocidente, sob a direção de Roberto Oliveira, ganhando as ruas em forma de intervenções. Depois conciliou a peça junto com "Clube do Fracasso" - que no início de junho voltará a cartaz - e a partir das sugestões de sua diretora, Patricia Fagundes e seu colega de elenco, Heinz Limaverde, fez os últimos ajustes na montagem.

"Isaías em Tese" faz suas últimas apresentações neste sábado, às 21h e domingo, 20h, no Teatro de Arena (altos do viaduto da Borges de Medeiros, nº 835), com ingressos de R$ 5,00 a R$ 15,00. Em junho fará o projeto Usina das Artes, dia 5, na Usina do Gasômetro e também percorrerá o Interior do Estado pelo Festival Palco Giratório Sesc: Lajeado (1º), Santa Cruz do Sul (2), Eerechim (7), Santa Rosa (8), Uruguaiana (10), Bento Gonçalves (15) e São Leopoldo (17). Passo Fundo terá vez no dia 20 de agosto.

Fonte:  Vera Pinto / Correio do Povo 

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